domingo, novembro 22, 2009

Just Two Strangers in a Train

Estava me lembrando de um livro que eu li na faculdade, Guerra Civil (Hans Magnus Enzensberger), que tenta explicar a xenofobia com a metafora de um trem, onde duas pessoas podem discutir, mas se algumas estações depois uma nova adentra, as que já ocupavam o vagão terão um sentimento de coesão e repulsa, ao menos inicial, à nova.

Me lembrei dessa história por causa de alguns encontros recentes, com colegas de colégio e faculdade. Um foi com um amigo próximo de ginásio, do qual me afastei no colegial, e a outra uma colega de faculdade. Passados cerca de dez anos, por motivos diversos, encontrei o dois. Interessante perceber como duas pessoas que não tinham mais tanto em comum podem subitamente achar a outra fascinante, ficando tão felizes com o reencontro.

Uma coisa que a minha colega disse, enquanto trocavamos informações sobre outros colegas, aponta para uma possível resposta. Ela comentou como era bom ver os outros colegas bem encaminhados na vida, bem sucedidos. Existe uma certa cumplicidade, a noção de que a outra pessoa conhece o nosso caminho e entende o quanto custou chegar até aqui.

Mas não é só isso, acima de tudo há uma enorme nostalgia de um tempo que não volta mais, de momentos marcados por ingenuidade, menos recursos do que hoje, mas que trocariamos correndo. A outra pessoa é um espelho, um memento, um fóssil de uma pessoa que não somos mais. Mas não me escapa a ironia de ter uma agradável almoço com uma pessoa com quem, dez anos antes, jamais tinha conversado por mais que alguns poucos minutos.

E a grande pergunta, cuja resposta talvez seja irrelevante, é se há dez anos essa pessoa poderia ter sido minha amiga, dada a oportunidade, ou se apenas o tempo e a ausência de qualquer coisa poderia gerar qualquer interesse mútuo.

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