quinta-feira, agosto 17, 2006

Pés de cana

Estava viajando de carro pelo interior paulista ainda bem cedo, sol nascendo enquanto eu seguia pela estrada, quando vi os cortadores de cana chegando pra trabalhar. Olhei pra aquele mar de cana e pra condição horrorosa daqueles trabalhadores e fiquei meio abatido. Me recordo de ter lido há algum tempo de um deles que morreu de exaustão no trabalho.
O problema todo é que para mim a solução é clara: mecanização. Não tenho dúvida que a única alternativa humana para essas questões é a substituição da mão de obra manual, liberando o homem para as tarefas mais nobres. Mas e que fim deve levar o cortador de cana?
E aí fiquei com mais dó deles, quando lembrei quem eram os seu pretensos defensores: um povo muito burro que ainda acha interessante essa dicotomia vazia do século XVIII e por isso se denomina esquerda. Não acredito em manter trabalhos fictícios, ineficientes, porque algum dia as pessoas vão acordar, como na ex-URSS, e descobrir que seus empregos não existiam, eram apenas um faz de conta. Ou, pior ainda, descobrir que seu país é um ficção, no caso de Cuba.
As preocupações ditas sociais muitas vezes escapam à minha compreensão por isso. Se o objetivo for melhorar a condição social, ela deve ser melhorada, não modificada e mantida como num zoológico. E o mercado, fornece alguma solução melhor? Não diria melhor, mas ao menos é solução, coisa que a outra não é. Ao invés de gastar tempo em manter uma realidade ultrapassada, um defensor dos descamisados deveria procurar um novo modelo de trabalho. Um modelo que certamente não se encontra na Carta del Lavoro ainda vigente.
A solução? Vai ser, infelizmente, desagradável, mas sou de vez em quando otimista. O dilúvio serviu pra limpar a atmosfera da terra, permitindo a nossa existência. Nem toda a destruição é ruim, e isso é verdade também pra sociedade. E, como todos os pesares, a expectativa de vida do cortador de cana ainda é maior que a de um rei do século XI. Resta saber como mudar de maneira eficiente, com menos atrito, ao invés de criar resistência às mudanças inevitáveis.