domingo, julho 23, 2006
sexta-feira, julho 21, 2006
Quotas Racistas
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil:(...) IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, (...) nos termos seguintes:(...)XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais;
As quotas racistas nas universidades estão só começando a causar problemas. Bem que eu gostaria de dizer simplesmente que pelo menos o projeto está gerando alguma discussão saudável, mas de saudável a conversa não tem nada. As partes envolvidas estão trocando farpas e não argumentos, e qualquer um que se manifeste em contrário é devidamente patrulhado como racista, e não alguém com uma opinião em contrário.
A questão das quotas engloba três aspectos: um legal, um ético-científico e um simplesmente prático. O debate legal me parece por demais simples. Não é possível que uma lei adote como fundamento para a aplicação de qualquer sanção, positiva ou negativa, os critérios de origem, cor, raça e sexo. E, pelo amor de Deus, não me venham com essa de que é uma discriminação positiva, então permitida. Tudo que gera um privilégio para A também gera uma perda para B. Quem discorda, por favor elabore um modelo lógico e abstrato de lei de quotas que considera constitucional, algo como: se cor A então quotas, se cor B então sistema universal. Só com letras, depois eu escolho o significado das letras, pois a constitucionalidade da proposição, impessoal, não pode depender do significado das letras.
Mas a questão é mais tola. Do ponto de vista ético-científico é fazer uma distinção que não existe, pois a ciência há muito reconheceu que não existe raça. Se o Estatuto Racial de Nuremberg for aprovado, obrigando a identificação por raça no sistema de saúde e documentos oficiais, lutarei até a última instância pra ser classificado como integrante da raça humana. Não que não existam outras, como demonstra a fauna política de Brasília. Uma das maiores “dificuldades” da iniciativa é que no Brasil não existe muito bem definido esse negócio de raça, por isso os infelizes querem forçar essa identificação (conscientização...) através da classificação forçada. Muitas pessoas se consideram brancos, mas em outros países seriam considerados de outras cores. O ponto é que a agenda desse projeto é criar uma divisão na sociedade brasileira que efetivamente não existe.
Aqui só Deus sabe quem é quem. Todo mundo é brasileiro e o taxista é italiano pra torcer na final da copa pra alguém. Falam em 50% de quotas para negros, mas não sei onde eles estão. Ando na rua e não encontro, aliás encontrei mais deles em Paris. Que inveja deles. Agora eu vou ser treinado para me “conscientizar” de quem são “eles”.
No Brasil a questão de genótipo contra fenótipo chega no limite. A mistura para a formação do que é o povo brasileiro é tamanha que somos uma prova da futilidade de classificar, ainda mais de maneira binária, um povo. E, os carecas do ABC que me desculpem, mas quero ver encontrar alguém que não tem um ascendente na áfrica nos últimos 10.000 anos.
Existe racismo, certamente, assim como existe discriminação contra mulheres, jovens e idosos, só para citar alguns. Mas é preciso perceber que não estamos falando de “minorias” (eu adoro quando ouço alguém chamar as mulheres de minorias...), mas do nosso tecido social como um todo que tem de ser tratado de maneira uniforme, não o dividindo ainda mais.
Do ponto de vista prático a coisa talvez seja até pior. Primeiro, a adoção de quotas dentro de um processo seletivo visa privilegiar um candidato que teve uma performance inferior no mecanismo de seleção padronizado. Não adianta querer dourar a pílula, assim como querer ler nisso mais do que existe, pois não se pode dizer que ele tenha um desempenho acadêmico necessariamente menor. Num primeiro momento se sabe apenas que ele vai pior num teste. A questão é: qual a finalidade do teste, e quão eficiente é ele? A finalidade do teste deveria ser selecionar estudantes que terão o melhor desempenho acadêmico. Nada além disso. Quanto à eficiência, ela é questionável, mas sabemos que vestibulares bem feitos, que trabalham com muita análise estatística, atingem em grande parte seu objetivo.
Se a finalidade das quotas for romper os defeitos do vestibular, que estaria impedindo a entrada de estudantes com bom potencial acadêmico, trata-se de uma falácia, pois o teste continuará o mesmo, com seus eventuais vícios. Se o processo de seleção é um problema, ele tem de ser mudado, até porque suas deficiências afetam todas as cores do arco-íris. A adoção de entrevistas, apreciação de currículos e outras técnicas são opções, embora eu continue a preferir a análise objetiva e impessoal dos testes, mesmo com seus defeitos.
Se a finalidade não é essa, e realmente não é, mas permitir a entrada de estudantes com um potencial acadêmico inferior, então temos um conflito entre a finalidade da seleção e o sistema de quotas, principalmente quando se fala de 50% dos alunos, como no projeto de lei.Uma universidade, ao menos uma que tenha muito mais demanda e oferta para justificar as quotas, não é um curso por correspondência que não é afetado pelos seus alunos. A seleção rigorosa determina o nível de um curso tanto quanto a escolha dos professores. Em São Paulo muitos professores dão aula na USP e em outras faculdades particulares, mas reconhecem que a aula que podem dar na USP é muito diferente. Um professor da ECA disse que na USP podia discutir, em outra particular de primeira linha tinha que chamar a atenção dos alunos, e numa terceira tinha de puxar um banquinho e sentar com os alunos e perguntar se queriam ir pro barzinho em frente. O corpo discente de uma universidade é seu maior patrimônio. E alterar de maneira tão drástica os critérios de formação dele terá, necessariamente, um impacto na qualidade do ensino. As particulares de primeira linha, desobrigadas das quotas, certamente ganharão com maior qualidade de alunos, por exemplo, com prejuízo das instituições oficiais.
Por fim, me lembro de um artigo que li na Time há uns dez anos sobre affirmative action. Nele era colocado o problema da desistência muito alta. Alunos muito bons, que poderiam entrar em boas universidades, entravam em outras mais competitivas, como Harvard, e lá acabavam enfrentando problemas e desistindo. Ele ponderava que essa mesma pessoa poderia ser bem sucedida em uma outra ótima universidade em que ele estivesse no topo dos seus pares. Ao que me consta a UERJ (*) e o seu sistema de quotas já conseguiu causar um bom estrago, com a qualidade dos cursos caindo. Não quero nem imaginar no que aconteceria com a USP ou a Unicamp.
(*) Post modificado para corrigir a citação da UFRJ, pois o correto é UERJ.
quarta-feira, julho 19, 2006
First Amendment
Congress shall make no law respecting an establishment of religion, or prohibiting the free exercise thereof; or abridging the freedom of speech, or of the press; or the right of the people peaceably to assemble, and to petition the government for a redress of grievances.
Eu sinceramente não compreendo mais o que se passe no Brasil. Agora uma “legenda” (PSL) está consultando o TSE para saber se blogs podem dar opinião sobre os candidatos. Meu Deus do céu, será que ninguém nesse país tem noção do que são as garantias fundamentais? Como ninguém parece conhecer nossa prolixa constituição vou apelar pra primeira emenda, que de tanto aparecer em filmes é muito mais conhecida.
A completa desconexão entre o povo e a constituição é uma tragédia que está na base da crise política. Quando a constituição alemã foi feita, um verdadeiro primor, tentou refletir o sentimento do povo do que era fundamental, representava essa realidade viva, e por isso mesmo se alterou e se adaptou com o tempo. Da mesma forma a constituição americana passou por um processo evolutivo que representa o estado médio daquela sociedade. E isso pra não falar do Reino Unido, aonde esse sentimento é, naturalmente, não escrito.
No Brasil não, constituição é coisa de político e juiz, não do povo, e política é uma atividade sujeita a um monopólio muito mais severo que o da Petrobrás. Só isso pra explicar que alguém conceba, ainda que em tese, que o meu direito de opinião sobre os candidatos possa ser limitado num blog. O problema é que no Brasil existe uma clara divisão entre quem participa da vida política e quem não participa, e nós somos uns párias que só podem comparecer na urna, bem quietinhos pra não sermos presos por fazer boca de urna. Com o monopólio e a profissionalização da política alguém se surpreende que exista a completa desconexão entre o político e o eleitorado?
Política, no seu sentido mais belo, é uma atividade que todos nós deveríamos praticar, interagindo nos espaços públicos (quais?), trocando opiniões num livre mercado de idéias, gerindo nossas vidas e a sociedade. Por isso a internet assusta tantos governos. Sou um liberal clássico, com alguns flertes com o anarco-capitalismo, e por isso não acredito nem no monopólio do Estado nem que seja ele o grande salvador. Acredito em pessoas e no livre mercado, seja ele de idéias ou de peixes, algo que não existe e não existirá tão cedo em nosso cenário político.
terça-feira, julho 18, 2006
Personalidades
Desde a criação do do Comitê do Apagão (não é a CPI do fim do mundo não), ainda no tempo do FHC, que a categoria de personalidades está consolidada. É só ler o decreto 3.520 para descobrir que "Poderão ser convidados a participar das reuniões da CGSE técnicos, personalidades e representantes de órgãos e entidades públicos e privados". Pois é, as personalidades viraram uma categoria à parte, distinta dos reles mortais desprovidos não de algum atributo da personalidade, mas dela própria. Trata-se de um atributo até mesmo para o exercício de funções públicas. Já imagino a sabatina no Senado: "Mas V. Sa. é realmente uma personalidade, quais as publicações que atestam isso?". Provavelmente seria mais eficiente que as sabatinas atuais, que pretendem testar o conhecimento técnico.
domingo, julho 16, 2006
Viagem sem destino
"Chuvas torrenciais e enchentes desencadeadas pelo tufão Bilis mataram pelo menos 115 pessoas no sudeste da China, de acordo com a agência estatal Xinhua." Reuters
sábado, julho 15, 2006
Vida Blogueira
sexta-feira, julho 14, 2006
Comidinha caseira 2
As pessoas parecem esquecer que até o século XVIII não existiam os restaurante como nós conhecemos hoje, nem esse conceito de comer fora. As tavernas e similares eram estabelecimentos direcionados unicamente a viajantes, e ninguém cogitaria de, morando na cidade, levar a patroa pra comemorar na taverna local. A palavra restaurante vem do francês, das supostas propriedades restauradoras de sopas. Originalmente eram estabelecimentos destinados, francamente, a pessoas doentes ou, no mínimo, meio fracas e idosas. Só muito depois uma parte maior da população começou a aderir ao modelo, que não era mais de sopas, mas esse é um fenômeno de cerca de 250 anos.
Mas a proliferação do restaurante, agora da lanchonete, como principal meio de alimentação barata, especialmente nas grandes cidades, é um fenômeno muito mais recente, de menos de meio século. Tudo isso pra dizer que se você fizer a comidinha em casa que falei, caprichada, além de comer melhor e pagar menos, também evitará engordar e viverá mais.Comida de restaurante é um atentado à saúde. Sal demais, banha demais, tempero demais e porções maiores do que nós deveríamos comer. Fiquei fascinado na França, vendo eles comerem todos aqueles queijos e não engordarem. Depois percebi os hábitos alimentares: comida feita em casa, com ingredientes naturais, pouca comida de restaurante e muito tempo pra comer. Sem tranqueiras entre uma refeição e outra. Se não existe segredo para emagrecer, basta não comer, também não significa que essa seja a única forma. Agora, não sei não se é possível manter a forma com o grude dos restaurantes e similares.
quinta-feira, julho 06, 2006
Comidinha caseira
Aí é que entra a alta culinária. Ninguém vai se emocionar com um prato congelado, ou seja lá qual for a comida que você sempre prepara, mas por que não mudar o padrão? Para isso basta preparar uma comida simples, mas de qualidade, com atenção a cada detalhe. Para a receita a internet ou algum amigo gourmet podem ajudar, ou mesmo aquela velha receita de família. O importante é procurar uma receita que empolgue. Um passeio por um empório bem abastecido também pode dar muitas idéias.
Uma vez estabelecido o objetivo é que entra em ação a “alta culinária”. Escolha muito bem os ingredientes, não faça concessões na hora de preparar e sirva a sua comida com toda a cerimônia, como se estivesse no melhor restaurante da cidade. Gaste um bom tempo na escolha do vinho, harmonizando com a comida, planejando os pratos do jantar. Mas, acima de tudo, capriche nos ingredientes.
Segundo uma entrevista que vi do Giancarlo Bolla o preço de um prato é quatro vezes o preço dos ingredientes, coisa que a família dele sempre fez. Essa conta vem mostrar uma verdade simples: que não há como ter um resultado excepcional sem os ingredientes ideais. Não quero aqui negar a mão do cozinheiro, a genialidade que faz uma receita se sobressair, mas com um pouco de atenção à receita, conhecendo suas próprias limitações, qualquer um pode fazer pratos maravilhosos com os ingredientes certos.
Não pensem aqui que estou falando de caviar. Para o risoto ou a carne utilize um bom vinho, que não precisa ser excepcional, mas não pode ser algo que você não beberia. Não economize no queijo ralado, compre um bom e rale na hora. Nem pense em utilizar margarina, apenas a melhor manteiga. Catupiry, só Catupiry. Massa, apenas italiana. O molho de tomate, compre um importado ou faça você mesmo se tiver paciência.Antes de pensar que um queijo é caro, pense no seguinte: um prato de R$ 30,00 em ingredientes custaria cerca R$ 120,00 num restaurante. Aí é a escolha de cada um: comer um prato de R$ 10,00 em ingredientes num restaurante ou um de R$ 40,00 em casa, gastando a mesma coisa. E se você gosta de um bom vinho, a comparação fica indecente.
quarta-feira, julho 05, 2006
Ouro de tolo
Acabei de receber um cartão crédito novo, mais um empurrado por uma administradora. Tinha cancelado o cartão dessa administradora há alguns meses, dizendo que não ia pagar anuidade, pois já tenho cartão demais. Faço isso sempre que chega alguma cobrança de anuidade de cartão: ligo e digo que vou cancelar. Se não abonarem a anuidade cancelo e uso os outros, pois oferta pra emitir cartão é o que não falta. Aliás, faço a mesma coisa com as operadoras de celular quando vou trocar de aparelho. Ou ganho uma grande vantagem ou eu mudo de operadora, porque até prefiro mudar de número de tempos em tempos, para os chatos perderem meu rastro. Sou profissional nisso, já tendo inclusive feito a ligação pro SAC em nome de vários amigos.
Não sou um pão-duro terrível, mas se você tiver mais de um cartão acaba pagando uma taxa, em percentual, muito alta. Digamos que num cartão você gaste R$ 1.000,00 por mês, então com um anuidade de R$ 240 estará pagando 2% sobre o valor gasto. Se você tiver muitos cartões essa taxa pode ser ainda maior.
Pois bem, a administradora me ligou, para saber o motivo pelo qual eu tinha cancelado e oferecer um cartão de graça. Dentro da minha política de sempre ter vários, pra cancelar sem medo, aceitei. Mas qual não foi minha surpresa quando recebi um cartão que parece da linha infantil.O dito cujo reluz todas as cores do espectro visível, de uma só vez, além de toda a frente do cartão ser uma holografia saltando pra fora. É a tentativa desesperada de diferenciar um produto que é, essencialmente, o mesmo. No começo existia o cartão, ponto. Depois, com a popularização do meio de pagamento, veio o cartão gold, para diferenciar o usuário. O usuário, porque o serviço, no frigir dos ovos é o mesmo. O problema é que existe por um lado a necessidade do marketing, de diferenciar o produto, e de outro a tentação de entregar o “diferencial” pra mais pessoas, ganhando dos concorrentes. Hoje em dia muitos bancos só emitem cartão “ouro”. Qual a solução? Criar novos diferenciais? Logicamente não, apenas criar novos “materiais”: a linha Platinum. Não tenho dúvida que em alguns anos o Platinim será o padrão, exigindo novos diferenciais: diamante, diamante triplo, safira. O serviço? Ah, esse será cada vez pior. E ai daquele que acreditar que carrega platina no bolso, emocionado pelas luzes do seu plastiquinho.