quinta-feira, junho 29, 2006

Sintusp Wars

Esse documentário gonzo, Sintusp Wars, é um engraçado olhar sobre a política (?) universitária dentro da pretensa melhor universidade do país (o mais duro é que é não existe disputa, mas isso é assunto pra outro post). Para quem não sabe, o Sintusp é o sindicato dos trabalhadores da USP.
Desde o dia 9 de junho (um dia antes do início da copa) iniciou-se na USP a greve mais bisonha e única de todos os tempo: uma que tem data para acabar, 10 de julho. Pra quem está mais lerdo pelo acúmulo de caju no organismo explico, isso é um dia depois da final da copa.
Nesse ambiente, em que se noticia que os alunos decidiram aderir à greve, é interessante ver a realidade. Decidiu quem, cara pálida? 200 alunos numa assembléia do DCE, organismo inexpressivo, num quórum que seria pequeno pra decidir sobre algo na FFLCH. Aliás, FFLCH que já avisou que não vai se ferrar sozinha dessa vez, e reluta em aderir à "greve". É que após tantas partidas de futebol e churrascos os moços correm o risco de não conseguir se formar. Essa "greve" só não é mais incompreensível que a noticiada greve dos presos, que não estariam comparecendo às audiências. Sempre pensei que isso não fosse algo opcional para um encarcerado.
O Sintusp Wars retrata a greve de 2005, mas a falta de imaginação torna ele perfeitamente atual.

quarta-feira, junho 28, 2006

Marilyn Manson

Há anos que ouço rumores de que o Paul dos Anos Incríveis seria o Marilyn Manson. A história tem tudo para ser interessante, com o super nerd se tornando um dos músicos mais controvertidos e trash da atualidade. A minha geração cresceu assistindo essa série na Cultura, que eu me lembre a primeira série americana decente que passou aqui. Tenho um colega que ficava passado quando alguém falava da suposta identidade do rockeiro, pois não conseguia assimilar a suposta decadência do seu ídolo juvenil.
Marilyn Manson tratou o assunto de uma forma, xingando, gritando e mandando todo mundo pro inferno. Não deu certo, os rumores só se tornaram mais fortes.
Josh Saviano, o ator, manteve completo silêncio e está distante das câmeras desde o fim da série. Também não deu certo. Hoje trabalha num escritório de advocacia em New York, e acho que se contar que foi o Paul os clientes não vão acreditar, afinal o Paul agora é o Marilyn Manson. Talvez ele até prefira assim.
Mas, será que existiria uma forma de provar que é apenas um rumor? Duvido, nem que os dois aparecessem juntos, com toda a equipe do CSI jurando que o boato é falso. Afinal, tem gente até hoje que acredita que o homem não foi pra lua.

'Beauty is truth, truth beauty,' — that is all ye know on earth, and all ye need to know.

Nesta quarta-feira, 9h da manhã, começa a jornada de Maria Sharapova em Wimbledon.
Miss Sharapova causa muita inveja, dentro e fora do circuito por um simples motivo: é verdadeira. Verdadeira na maneira que se entrega nas partidas, na dedicação ao esporte, em cada um dos seus golpes clássicos, com pouco spin, angulosos como seus maravilhosos traços.
É bela não da maneira simples e vulgar, meramente sensual, que qualquer musa da estação pode ser, mas bela em sua essência, em seus movimentos, em sua postura, em sua atitude, em seu trabalho. Bela no sentido de Schiller. Verdadeira porque bela, bela porque verdadeira.
Beleza e verdade que inspiram, que elevam o espírito, que tocam quem assiste essa dedicada guerreira jogar.

segunda-feira, junho 26, 2006

The All England Lawn Tennis Club Single Handed Champion of the World

Começou hoje o fortnight mais importante do tênis mundial. 128 homens e 128 mulheres apenas nas chaves de simples, sem contar os torneios de duplas e juvenil, se encontram no templ0 do tênis, sua casa, para jogar o esporte como deve ser.

Se você tem SporTV, ligue no SporTV 2 (canal 38 da NET) durante essa semana a partir das 9h da manhã para assisitr diretamente de Wimbledon The Championships. Mas se você é realmente um fanático, com uma ligação de banda larga de verdade, não pense duas vezes: corra para www.wimbledon.org e compre por apenas $ 19.95 o acesso à área Wimbledon Live.
É um verdadeiro sonho. Você pode assistir qualquer um dos até 9 jogos transmitidos simultaneamente, além de no fim do dia poder baixar todos deles. Tudo bem, os arquivos têm proteção DRM, e provavelmente não vão tocar sem muito trabalho daqui 10 anos, mas mesmo assim vale o dinheirinho.
De que outra forma você vai poder assistir um jogo de primeira rodada da Daniela Hantuchova, ou mesmo da Martina Hingis. Tudo bem que é a SporTV, então a escolha das partidas transmitidas não é tão ruim como quando a ESPN transmite, mas é sempre bom poder assistir depois uma partida interessante que bateu no horário de outra.
Quanto à qualidade, não se preocupem. Se você tem uma boa ligação de banda larga, com pelo menos 600kbps (o stream é de 500, com arquivos com bitrate mais alto), a qualidade é bem aceitável e dá pra assistir sem problema nenhum. Só pra constar, com o Virtua de 2mb funcionou perfeitamente, mas com o Speedy de 1mb está engasgando um pouco.
Garanto que quem me encontrar essa semana, mesmo no trânsito, vai na hora me reconhecer.

domingo, junho 25, 2006

Você sabe que bebeu demais quando...

precisa colocar o despertador pra te acordar às 11 da manhã.

Google

Esse blog, como vocês podem ver no histórico, completou um ano em junho, mas foi só agora que ele ganhou propriamente vida. Especialmente após o empurrão do pecus com a gentil menção em seu blog, pois foi apenas depois dela que eu passei a ter algum material no sitemeter para me divertir. Mas, verificando os referrals, constatei que o google também me enviou alguns visitantes.
Fiquei surpreso, sabendo como é acirrada a disputa pelo topo das pesquisas do google. Rapidamente entendi o motivo: eu conseguia ficar no topo das pesquisas mal feitas. Mas, já é um começo, não vou reclamar. Posso dormir sabendo que quem procurar as palavras abaixo vai cair no me blog:
fada verde de alfie
sao paulo absinto onde comprar
esculturas academicismo
cera carta lacre
como acabar com a tosse
mr. fitzwilliam
tudo sobre a bebida absinto
glock 25 manual
Mas fico imaginando: será que o cara que quer acabar com a tosse vai tomar absinto?

sábado, junho 24, 2006

Não gosto de futebol

Não gosto de futebol. Pronto, está dito. Minha mãe tem uma teoria de que isso é um trauma infantil causado pela copa de 82, pois eu teria torcido muito naquela época. Besteira, que criança não ficaria impressionada com a cidade inteira pintada de verde e amarelo, os sons, as festas? Mas quanto ao futebol, deste posso dizer que nunca gostei.

No Brasil isso não é fácil de lidar. O que responder quando perguntam qual o seu time? Responder com outra pergunta, qual o esporte, pode ser considerado um pouco agressivo, então encontrei outra resposta. Simplesmente digo que torço contra. Cresci e não aprendi a gostar de futebol, mas aos poucos comecei a apreciar o torcer contra. Não torço contra alguém, simplesmente torço contra. Não importa o resultado da partida, ainda assim tenho alguém para atormentar.

Agora, em tempos de copa do mundo a coisa fica mais complicada. Já torci pela Inglaterra, mas isso gerava animosidade demais, mesmo de meus familiares. Torcer contra o Brasil é complicado, até mesmo porque na maior parte das vezes você não conhece nenhum nacional do outro país para manter o equilíbrio de apenas torcer contra.

Mas, felizmente, este ano encontrei a solução perfeita para o meu dilema de como manter minha postura durante a copa: torcer para o Brasil. Como o leitor já deve saber, nunca sujei a calça num banco de estádio, por isso não posso ser antropólogo. Fui uma vez, mas o banco estava limpo. Mas não há problema algum, pois se não posso ser antropólogo, ao menos posso ser comentarista de futebol. Sim, eu que não gosto e não entendo de futebol consegui replicar perfeitamente o discurso dos comentaristas especializados.

O Brasil sofre pra ganhar, aponto os defeitos, faço piadas sobre o redondo, finjo interesse. Grito que o jogador que eu nunca vi jogar tem de entrar. As pessoas ficam exasperadas, minha mãe defende o Ronaldo, ao passo que recebo apoio de outros especialistas. A quantidade de piadas ao meu dispor é imensa. E, sem qualquer modestia, consigo fazer a coisa de uma maneira mais discreta que os comentaristas. Não chego ao ponto de dizer, como ouvi um na TV, que o Ronaldo só vai jogar quando revogarem a lei da gravidade.

Terceiro jogo, o Brasil goleia: nenhum problema. Digo que o Ronaldo ainda é problema, que só queria bater o recorde e não se importa com a seleção, que tem o IMC de uma baleia, beirando o dobro do IMC da Sharapova (pausa para suspiros), que a seleção não é lugar pra jogador se recuperar. Que a armadilha de ganhar de goleada no terceiro jogo está tirando a atenção dos sérios problemas táticos que vão se manifestar nas etapas seguintes, contra times de verdade. Curiosamente, obtenho alguns sinais de aprovação.

Pra mim o ponto mais divertido é comentar sobre o esquema tático. Só sei que existe goleiro, defesa, meio-de-campo e ataque. Não faço a menor idéia do que seja ponta. Mas mesmo assim fazem sucesso minhas críticas ao modelo do quadrado, dizendo que ele tem falhas no meio-de-campo, que a bola não chega para os atacantes, que estão sendo forçados a fazer o que normalmente não fazem nos seus times, buscando a bola, e por isso obtendo péssimos resultados. Não tenho nem idéia do que isso quer dizer, mas parece que faz algum sentido pra outros torcedores.

Sinceramente, ainda acho que faço um melhor trabalho que os especialistas, porque procuro manter a coerência dos comentários, não me contradigo e nunca fico feliz ou satisfeito. Não aprendi a gostar de futebol, mas finalmente fiz as pazes com a copa. Ela vai ser muito divertida.

sexta-feira, junho 23, 2006

Love letters

Em tempos de internet a troca de cartas entre particulares vai se tornando algo cada vez mais excepcional. Os meios eletrônicos, não apenas email, mas também orkut, MSN e Skype, substituem na maioria das vezes o que antes seria comunicado por uma carta. Mas, toda mudança de mídia acarreta em alteração no conteúdo, ainda mais se tratando de mídias tão dinâmicas. Percebe-se um cuidado cada vez menor com a escrita das mensagens, especialmente das instantâneas. Até mesmo a possibilidade de pular, editando de forma não linear pedaços da correspondência, interfere no estilo.

Entretanto, aonde tudo isso se torna mais claro é nas cartas de amor. Jamais uma mensagem de amor enviada por email, com o mesmo conteúdo, terá o mesmo efeito de uma carta tradicional. A correspondência escrita em papel tem algo que a diferencia das formas eletrônicas, a começar pela sua durabilidade. Uma carta de amor em papel pode ser guardada, relida, e encontrada pelos tataranetos na caixinha de música empoeirada, ao passo que o email só vai durar até o próximo computador ou vírus. Aos que acreditam em impressora, esqueçam. Um email apaixonado, uma vez impresso, é tão atraente quanto à conta do banco e vai acabar na lata de lixo.

Mas não é só. Uma carta, logicamente manuscrita, leva ao final a assinatura do remetente, mostrando o seu comprometimento com as palavras acima. Assim como uma correspondência eletrônica tem menos valor num Tribunal, também pesa menos no nosso imaginário. E aquele que for se dedicar a escrever uma carta de amor vai, certamente, utilizar-se do melhor papel e envelope, ainda que sem maiores e desnecessárias frescuras, demonstrando sua atenção e consideração para com a destinatária.

Além disso uma correspondência é uma comunicação privada que se dá dentro de um espaço aberto, ao contrário do email. A carta será manuseada por empregados e chegará ao conhecimento do restante da família da moça. Por isso implica mais formalidade que o email e, com isso, maior importância. É um detalhe que poucos percebem, mas Mr. Darcy em Orgulho e Preconceito aguarda o passeio de Elizabeth para entregar pessoalmente a carta com suas explicações. Isso ocorre porque, sendo os dois solteiros e em idade núbil, seria inadequada a correspondência. Por sua vez, Elizabeth não pode o defender com o conteúdo da correspondência sem trair sua confiança. Os tempos mudaram, os costumes também, mas as razões para a importância da carta permanecem.

Por fim, assim como os livros ainda não foram superados por suas versões eletrônicas (é só ver quantos preferiram imprimir O Stalker), também a carta de amor manuscrita tem as suas vantagens. A jovem que recebe uma carta de amor pode ler e reler na cama, ao sol, no jardim, além de a abraçar, coisas que jamais poderá com o email. Porque beijar a letra manuscrita do amado é uma coisa, agora, arial 12, sem condição...
Mas o desuso das cartas funciona a favor delas. A surpresa de receber uma carta quebra o infeliz ritual de verificar contas e malas-diretas. Assim, continuo com o meu arsenal antiquado, escolhendo até mesmo a caneta (jamais uma esferográfica comum), ainda que o email seja admissível como uma forma complementar.

quarta-feira, junho 21, 2006

L'absinthe

A pintura ao lado, L'absinthe, é um Degas que infelizmente não veio para a exposição no MASP. A moça, uma atriz amiga do pintor, fita com um olhar meio perdido o copo de absinto, como que hipnotizada, talvez pela fada verde.
Há uns três anos eu e um amigo, cuja identidade manterei em segredo, enfiamos na cabeça que queriamos experimentar o tal do absinto, provocados pela notícia do retorno das importações da bebida.
O absinto guarda uma aura apenas romântica, ao contrário de outras drogas ilícitas disponíveis, exatamente porque qualquer efeito negativo está muito distante de nós. Embora o LSD tenha também inspirado uma geração, assim como a heroína tem seu lugar na história Jazz, ambas têm uma realidade negra muito próxima que obscurece qualquer romantismo.
A verdade é que a proibição do absinto veio muito mais por um clamor popular, baseado em supostos crimes cometidos por absintosos, do que por provas científicas dos efeitos e riscos. Muitos especulam que os famosos efeitos são devidos ao alto teor alcoólico, em muitos casos chegando a até 70%, e não ao elemento neuroativo tujone.
Seja como for, após várias décadas o absinto retornou às gôndolas européias, com uma limitação no teor do tujone extraído da Artemisia Absinthium. As versões nacionais, ainda que importadas, têm também uma limitação no teor alcoólico. Pois bem, fomos à caça da fada verde pelas lojas da cidade, entretanto sem sucesso. Todas as versões eram grossas picaretagens, apenas alcool com anilina verde que sequer fica leitoso ao ser misturado com água. As um pouco melhores nem utilizavam Artemisia Absinthium, pelo que não passavam de um Pernod.
Lembro que na época cogitamos de produzir o nosso próprio absinto, pois a essência de Artemisia Absinthium, com alto teor de tujone, pode ser legalmente comprada para uso em cosméticos. Ficamos um pouco desencorajados quando lemos sobre um idiota que misturou uma colherada inteira no absinto caseiro e caiu morto, pois o limite seguro está por volta de 30mg/kg.
O absinto me lembra um filme adolescente bem idiota que assisti, onde os dois personagens em Amsterdã comem um brownie e têm incríveis alucinações, as quais terminam quando o rastafari dono do café informa que aqueles não são brownies mágicos. Apesar de todos os quadors impressionistas, até hoje não existe nehuma prova de que o tujone causa alucinações.
Pois bem, finalmente consegui comprar um absinto de respeito, com 55º GL e artemísia de verdade, dentro do limite da UE. Tudo bem, não é o absinto do mercado negro, que pode ter até 20 vezes o teor de tujone do meu, encontrado na Holanda, na Suiça e alguns países do leste europeu, mas pelo menos já posso chamar de absinto. A garrafa veio até com uma bela colher, própria para colocar os cubinhos de açúcar e a água fria.
Elegi o dia 12/6 como a data para a degustação, uma vez que existe um limite para o número de anos seguidos que você pode assistir Deconstructing Harry e achar engraçado. Sinceramente não consegui entender como alguém pode ter alucinações, já que eu não consegui nem ficar bêbado. Se ele for diluído em água não passa dos 18º, num copo pequeno. Se for bebido puro o paladar vai se enjoar da bebida adocicada muito antes de qualquer bebedeira. Sobra o fetiche, que não é pouca coisa. Vou experimentar depois a dica do Pecus que viu no Alfie a Susan Sarandon tacando fogo no absinto e derretendo o açúcar na colher. Ao menos vai ser um belo espetáculo.
Por enquanto a única utilidade comprovada do absinto foi acabar com uma tosse da minha mãe. Nada de estranho, afinal o absinto não era originalmente um remédio de ervas? Pior que vic vaporub não deve ser.

terça-feira, junho 20, 2006

Caixão com rodinhas

Desde o tempo de faculdade que digo que vou precisar de um caixão com rodinhas pro meu enterro. Não tenho grandes ilusões de conseguir um número suficiente para carregar o trambolho até a cremação. Sem dúvida o acessório ao lado seria útil, mas não creio que eu entraria nele sem serrar as pernas.
Em tempos de MBA sobre gestão do luxo não sei como até agora não foram lançados serviços de planejamento prévio de enterro, como os de casamento. E ainda dizem que São Paulo é uma cidade que tem serviços pra tudo.
É claro que as velhas carpideiras são precursoras, mas falo de um serviço mais completo. Assim como hoje é possível contratar um galã pra comparecer numa festa de 15 anos, porque não já reservar o casting da Marilyn para o seu enterro? Com direito a uma para se jogar sobre o caixão, desesperada ao fim do funeral. Poderiam até existir planos de enterro pré-pago, com direito a 15 minutos de telão grátis.

domingo, junho 18, 2006

Aphrodite

Aproveitei minha visita por duas das mais importantes coleções de esculturas gregas e romanas do mundo para sanar uma dúvida que tinha há muito tempo. Com um affair com uma bulímica, que terminou em virtude da infeliz revelação do consumo matinal de café com sal, além de uma longa paixão não correspondida por uma anoréxica nas costas, pode-se dizer que prefiro a categoria peso pena. Sempre procurei sustentar a razoabilidade estética da minha preferência, o que tem se tornado até desnecessário hoje em dia, mas sempre procurei uma justificativa anterior, que não pudesse ser atacada pelas conversas PC tão em moda.

Por isso sempre preferi acredirar que compartilhava o gosto por um padrão de beleza feminino clássico, tão sustentável como o mais rechonchudo padrão renascentista. Neste ponto é importante um parêntese, para poupar o leitor incauto de prosseguir nesta inútil leitura. Não é minha intenção tratar de um padrão ideal, comparar ou determinar o melhor, mas apenas empreender um exercício estético de um ponto central de observação: o meu.

Entretanto, a única forma de me certificar disso era examinando ao vivo uma série de esculturas da época. Pinturas, além de escassas geralmente apresentam apenas as posições mais favoráveis. Por outro lado, as fotografias das esculturas são novas obras de arte, que sofrem das mesmas limitações. Pessoalmente adoro tirar fotos de esculturas, pois você alenta a ilusão de ter uma parte no maravilhoso resultado final, quando fotos de quadros são de difíceis a impossíveis.

Pois bem, fui verificar as belas esculturas antigas, com uma parada obrigatória para a Vénus de Milo, Aphrodite vez que é grega, fotografada ao lado em proposital ângulo desfavorável. A Deusa, sabiamente, tinha originalmente seus braços cobrindo boa parte da delicada barriguinha, de modo que o escultor jamais planejou essa vista em especial. Longe de mim negar a incrível beleza da estátua, que admiro muito em cada um de seus traços, mas fiquei um pouco incomodado em não achar a barriguinha perfeita. Será que terei de parar de invocar os clássicos para defender meu gosto? Não alteraria nada, apenas a leve retirada da barriguinha.

Confesso que fiquei meio abalado. Será que sou um doente? Felizmente uma breve consulta ao CID-10 mostrou que desde que eu não me refira à minha imagem sou saudável. Mas após essa surpresa até que as coisas melhoraram. Diria que cerca de metade das esculturas que vi eram incrivelmente magras, acompanhadas também de maravilhosas obras do academicismo francês. Os dedos longos e finos, os belos pescoços. Sinceramente não entendo por que a escultura de figuras humanas está tão pouco em moda hoje. Se entende que a a pintura tenha se ressentido da fotografia, e esta dos computadores, ambas procurando novas fronteiras, mas a escultura não tem qualquer motivo para temer. A escolha da posição, o esforço para mostrar os movimentos, a leveza de tecidos, tudo isso jamais poderá ser substituído por moldes ou digitalização. Entretanto, somo forçados a conviver com esculturas que valem mais fundidas que em pé, como a do túnel Ayrton Senna em São Paulo. Aliás, quem gosta de esculturas, preferencialmente macérrimas, não pode perder a oportunidade de ver a escultura de bailarina de Degas no MASP, provavelmente a última exposição internacional de peso do mausoléu.

sexta-feira, junho 16, 2006

Sealing-wax

"A gentleman should never use sealing-wax of any colour but red, nor paper of any hue but white. Fancy papers, fantastic borders, dainty coloured wax, and the like elegant follies, are only admissible in the desk of a lady." Routledge's Manual of Etiquette, page 45. George Routledge and Sons, London:1875.
O meu súbito interesse pela escrita cursiva não se deve a um mero acaso. Nas férias comprei alguns mimos que ainda estou testando. Primeiro uma bela pena verde esmeralda com bico de metal, acompanhada de tinta dourada (as outras cores posso usar a tinta que já tenho para caneta tinteiro). Admito que fiquei em dúvida entre essa e a versão sem bico de metal, mas acho que não tenho a habilidade para apontar a pena depois. Muitos grandes escritores continuaram usando o bico de pena natural por anos após a introdução do de metal, talvez pelo peso, ou mesmo pelo som. Mais provavelmente porque qualquer mudança em nossos instrumentos de trabalho é problemática. Não consigo usar minha raquete de tênis se outra pessoa colocar o Tournagrip, nada parece certo.

Mas, como com o passar do tempo a pena de metal venceu, achei que não seria um modernismo despropositado optar pela praticidade da pena com bico de metal. Infelizmente minha professora de português nunca cumpriu com as ameaças de me reprovar se minha letra não melhorasse, o que me deixou com uns garranchos medonhos que, como uma amiga disse, lembram os de uma criança. Ainda não alfabetizada, logicamente.

Para complementar os utensílios essenciais comprei um sinete com minha inicial e lacre de cera vermelha, como deve ser. Existe uma certa controvérsia acerca da propriedade de utilizar cera colorida na correspondência com uma mulher, mas prefiro o caminho mais seguro. Caso o leitor seja mais ousado, apenas lembre-se que, se for utilizar cera colorida, em hipótese alguma ela deve ser perfumada.

quinta-feira, junho 08, 2006

Democracia direta

Quem me conhece sabe que eu sou uma pessoa muito razoável, o primeiro a admitir quando estou errado. E no referendo do ano passado a imensa maioria (64%) demonstrou que eu estava muito equivocado ao não querer andar armado. Assim, peço o auxílio dos amigos para contatar o seu deputado e os membros da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados pedindo a aprovação do importante Projeto de Lei apresentado pelo causídico Bob Jeff, que já recebeu o parecer favorável do relator Dep. Luiz Antonio Fleury, liberando o porte de arma para advogados. Após a aprovação ele deve seguir para a CCJ e depois o plenário. Já estou escolhendo a minha pistola .380 (glock 25).
Vamos lá pessoal, uma forcinha aí, não custa nada colaborar para liberar meu porte de arma. Afinal, 64% da população não pode estar bem intencionada. E agora é tarde pra mudar de idéia. Se não me queriam armado deviam ter votado sim...

quarta-feira, junho 07, 2006

Stranger things

Não sei muito bem por que estou reativando este blog, que foi concebido unicamente como um teste de tecnologias. Já por algumas vezes eu considerei postar nele, inicialmente cogitando postar em inglês, para exercitar e manter a fluência. Mas tenho percebido que provavelmente preciso de mais exercício para o português do que para o inglês.
Na verdade o que eu realmente precisava era voltar a escrever a mão. Anos de trabalho em frente ao computador suprimiram minha capacidade de escrita, atrofiando diversos músculos da mão. Qualquer texto que ultrapasse meia folha já começa a causar incômodo nos dedos, desacostumados de qualquer esforço.
Mas não é só: mimei tanto meus dedos que eles se recusam a escrever em outra coisa que não o Microsoft Natural Keyboard, com sua estranha curvatura. A tecnologia e a civilização atuam para nos tornar um bando de incapazes. Não é a toa que a obesidade é um problema, se não trocamos mais nem a marcha no carro.
É interessante pensar nos caminhos da evolução e da seleção natural. Em outros tempos eu já teria sido devorado por tigres, se não morresse antes de fome e sede. Talvez os que invadiram a Câmara esta semana estejam certos na sua revolta, tentando restaurar a normalidade da seleção natural e da evolução. Como não sentir uma certa empatia com a moça que agitava uma maça de concreto contra os terminais de computador da Câmara? Todo aquele ódio selvagem talvez esteja muito justamente direcionado contra o instrumento que reverte a lógica natural.
Obviamente, outro poderia apontar que as taxas de natalidade decrescentes em certas regiões (e.g., 1.3 por casal na Alemanha), em conjunto com o aquecimento global e outros fenômenos, mostrariam uma tendência a um quente, úmido e sangrento reequilíbrio natural. Mas somos resistentes, e armas biológicas de destruição de massa atuam para manter o status quo.